domingo, 21 de dezembro de 2008

ANJO TEMPESTUOSO

Ele a olhou.
Sabia que seria complicado, mas deixou.
A vida pareceu Ter outro sentido depois que ela apareceu.
Era estranho.
Um lindo anjo tempestuoso.
Carregava a suavidade dos sonhos e ao mesmo tempo, a agressividade de tempestades e relâmpagos.
Era instável e feroz.
Teu olhar sereno e misterioso.
O que se poderia esperar dela se não amor e paz?
Mas suas asas tão manchadas de sangues e batalhas, jamais traria a alguém uma paz tão desejada.
Sua missão sempre fora ensinar através da espada e não saberia fazer diferente.
Com seu sorriso inocente, seu olhar malicioso...
Era complicado entendê-la e tão fácil amá-la.
Mas também, era fácil ferir-se em seus espinhos, esbarrar em seu passado ou mexer em antigas feridas mal cicatrizadas.
Ela sempre será um segredo, um enigma, um desejo.
Algo a ser descoberto, desvendado e domado.
Mas acho que ninguém no mundo conseguiria tal proeza, pois seu espírito é selvagem como os ventos que de brisa se tornam tempestades.
Mesmo assim, ele a olhou mais uma vez.
Sabia que dificilmente conseguiria, mas deixou assim estar e assim acontecer.
Depois de anos a sua volta, percebeu que não adiantaria questionar.
Ela sempre viu além de seus olhos e embora ele pudesse compreender e aceitar, não podia sentir ou acreditar.
Tantas e tantas vezes ela avisou, que aquele que olha muito tempo o abismo, passa a ser olhado por ele.
E ela era o abismo.
Aonde tudo começa e termina, onde a dor se propaga ou cessa.
Era a saída ou a chegada.
O bem ou o mal, dependia sempre de quem e como a olhavam.
Um anjo de roupas pretas, olhos distantes, coração machucado e asas manchadas, mas como negar que ela era ainda um anjo?
Com seu amor, seu afeto.
Sua proteção, suas orações, seus carinhos.
Ela sempre estaria ali, vagando pelas ruas desertas de seu destino.
Em algum lugar da noite perdida em seus devaneios.
Ele a olhou mais uma vez, seu delicioso vestido preto colado ao corpo, seus ondulados cabelos vermelhos, seu olhar perdido no vento.
Sabia que seria complicado, que lhe rasgaria a alma deixá-la partir, beijar outras bocas, provar de outros sangues, alimentar-se de outras almas, proteger outros perdidos, seguir seu destino sem ele.
Muito tempo atrás, na noite em que atendendo á sua súplica, sorveu seu líquido vital e lhe deu em troca uma visão do mundo, ela lhe disse:

- Na noite, onde criaturas como nós vagamos a procura de satisfazer aquilo que almejamos, seja saciar a Besta ou ceder á Fome, nada nos pertence. Nem nós mesmos. Aprenderá um dia que aquilo que mais amamos sempre será aquilo que perderemos primeiro e que depois que se chega onde estamos, não adianta suplicar, pois não haverá morte ou paz somente poeira ao vento quando o sol amanhecer. Embora a dor e o sangue que me delicio a beber, ainda tenho asas e ainda preciso cumprir o que vim fazer. Nunca serei livre, mas você sempre será. Ás vezes o pássaro dentro da gaiola será mais feliz do que aquele que pode voar.

Ele a olhou, uma última vez, viu suas asas rubras e sua luz pálida.
Ela podia ir para onde quisesse, tinha poder para isso, mas entendeu que o pássaro dentro da gaiola era ele.
E aquele que parecia poder voar jamais seria livre.
Sorriu...
Ele a olhou, sabia que seria complicado, mas finalmente, a deixou partir.

2004

Um comentário:

Adriano Siqueira disse...

magnifico !!!! esta ai uma obra que eu realmente gostei de ler.
parabens :-)