domingo, 23 de novembro de 2008

Cordeirinhos

O corpo que eu desejo é branco.
Possui a pele tenra da juventude.
Os lábios que almejo estampam um sorriso debochado e irônico.
“Eu posso tudo”, é o que está escrito em suas entrelinhas.
Aquele que aspira as estrelas e que olha somente para frente.
Sem se importar onde pisa.
Sem pedir perdão.
Justifica suas faltas com desculpas esfarrapadas e meios sorrisos falsos.
Ele pode.
Em sua beleza rude, seu olhar determinado e seu espírito voraz.
Tão anjo quanto demônio.
Pobres ovelhinhas que não enxergam sua alma.
Doces sorrisos, olhares perdidos, carinhos, jeito desprotegido.
Como um predador que encurrala a presa sem que ela perceba.
A aranha negra que tece a teia em silêncio e calmamente espera.
Ah! Se pudessem ver o que eu vejo!
O caçador faminto! O desejo por mais! O orgulho! A soberba! A soberania!
Menospreza a presa, humilha-a em segredo, envaide-se com seu sofrimento.
Sim!
É belo, jovem e branco o corpo que desejo.
Os lábios são debochados e ludibriosos.
O ser é mesquinho, cínico e ganancioso.
Mas é esse espírito voraz que deseja devorar o mundo a sua volta que me encanta.
Que não dá valor aos pobres que lhe cultuam.
É esse ser por trás da máscara que eu almejo.
Porque mais delicioso do que a presa encurralada e indefesa, é o carnívoro que a espreita.
Aqueles que desejam o poder como ele, sempre desejarão os mais poderosos.
Sim... porque enquanto despreza os cordeirinhos esquece-se que existem outros lobos maus à sua volta.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A chama que se extingue

Vivendo séculos através das sombras, vendo o tempo passar por meus olhos e nunca me levando consigo.
Se algo mais importa eu desconheço.
No caminho ao qual me entreguei na luxúria de uma noite banhada em sangue, não existe mais nada.
O amor que vivi.
A família que tive.
O palacete onde morava.
As luzes de vela que me encantavam.
O imortal que me abraçou.
De tudo isso somente as cinzas espalhadas ao vento restou.
A fascinação da sedução da caçada, o gosto agridoce carregado de adrenalina, o calor do corpo em meus braços, as batidas do coração, a respiração que falha, nada mais disso me cativa.
Nem a Sede ou a Fome.
A Loucura ou o Devaneio.
Nem a Humanidade que grita em meu peito.
Para esse ser que almeja a lua, não existe mais nada.
Nada mais importa.
Pergunto-me a cada vítima se alguma delas pode me devolver á vida.
Ou entregar-me deliciosamente à morte.