domingo, 17 de junho de 2012

E de novo outra vez...




Há séculos que vago pelas noites.
Vejo a vida passar como um filme em preto e branco, a vida dos outros e não a minha. Suas alegrias, suas tristezas, suas incertezas, erros, acertos e perdas.
Parece tudo tão distante quanto deveria ser.
Mas não é.
Sob meus pés ainda está a praia dos cacos de vidro, presa no meio do caminho sem ter pra onde caminhar, sem coragem de seguir em frente. Incapaz de voltar por onde vim.
Ainda sangro, ainda choro, ainda me faço sempre as mesmas perguntas...
Que crime eu cometi, Senhor, para que continue pagando? Qual o pecado de minha alma, condenada a sempre vagar, a sempre curar as feridas dos que passam sem nunca fechar as minhas?
Aceitei meu caminho, minhas escolhas erradas que me arrastaram ainda mais, e segui. Cumpri minha palavra e ainda cumpro.
Mas ainda lhe pergunto, quando terei a paz em minha alma? Quando finalmente poderei?
Sei... eu posso ouvir outra vez... pensei que não voltaria a me chamar.
Aquela alma que sempre me clama, que sempre reivindica meu ser mas que não posso tocar. Os ventos da mudança que batem na minha porta sem querer me abraçar. Novamente e novamente, sempre vem... e o caminho de areia a minha frente se move enterrando ainda mais os meus pés.
O que devo fazer? Estender minhas asas novamente para que o vento a rasgue e sangre até que chova meu vermelho sobre o caminho à minha frente?
Aceitar novamente que não existe lugar nenhum para mim?
Está chegando a hora de eu partir?
Pois encontrar meu destino eu não acredito, não posso mais senti-lo. 
Não faz sentido... se de tudo minhas lágrimas ainda é o preço do meu pecado, não preciso dar um passo sequer pra longe de onde estou.
Minha missão aqui ainda não teve fim... então porque os ventos da mudança querem me buscar pra um lugar que não quero ir?
Não há mais solução não é? Meu tempo se esgota tanto quanto o sol está prestes a nascer...
No fim das contas... minha alma amaldiçoada por dons que não queria e agora sinto falta, só sabe seguir suas ordens.

sábado, 28 de maio de 2011

Destino


Mas terrível do que nunca ter experimentado um sentimento, é tê-lo por aquele a qual está destinado a matar.

Não havia nada que pudesse ser feito mesmo se soubéssemos, mesmo que desejássemos, era impossível, pois aquele destino está gravado em nossas almas, por séculos e séculos sempre se repetindo.

Como o sol que morre para a lua viver, como a lua morre para que o sol nasça, a existência de duas criaturas como nós, o amor entre duas criaturas como nós, é tão proibido e perigoso que poderia levar-nos ao que os humanos chamam de apocalipse.

Você se importaria?

Perguntei-me tantas vezes sempre nunca saber a resposta, sem nunca ser capaz de responder, mas juro, meu querido, que naquele meu lado escuro que vc revelou tão facilmente, eu respondi todas às vezes.

“Não, não me importo. O que é o apocalipse comparado ao destino que nos cabe?”

Ah, meu doce e suave querido, como quisera poder gritar a pleno e bom tom “ que se dane”. Mas... como eu disse, era impossível.

Querido, em quantas vidas mais, iremos nos encontrar desse jeito? Seremos algum dia capaz de quebrar esse circulo?

Renascer e reviver esse sentimento sem uma profecia de morte?

Ah, querido, doce me seria renascer para finalmente estar em seus braços, sem que para isso eu tenha que escolher o fim da humanidade.

Quisera nunca ter experimentado sentimento algum, nem de amor e nem de ódio, que assim talvez, não doesse nosso destino e não desejaria tão ardentemente que minha alma morresse junto com nossos corpos.

Mas sabe querido, como eu sei, é impossível.

Porque dois seres como nós, estamos fardados à guerra e à morte.

E o tão sonhado amor que carregamos nada mais é do que o nosso pecado.

Por isso querido, nesta vida, não sujarei minhas mãos com teu sangue nem lhe darei do meu para sujar-se. Porque minha alma não agüenta mais.

Sem vitória e sem derrota.

Sem guerra e sem luta.

Talvez assim se quebre, talvez assim ainda haja uma chance de vc ser feliz!

Querido, nosso destino nada mais é do que um castigo.

Chore o quanto puder, grite o mais alto que conseguir, esbraveje e odeie-me. Mas siga em frente, mesmo desejando morrer.

Assim finalmente saberei que amor maior não é o que morre junto, mas aquele que sobrevive à solidão do outro.

Querido, até a próxima vida, porque seria bom demais que terminasse aqui, não é mesmo!

Quem sabe tenhamos a chance de não nos encontrar e não termos que terminar dessa forma.

Mas olhe, a lua está tão bela hoje, que é um desperdício não apreciá-la.

Entrego-me ao esquecimento com aquilo que mais amei em todas as vidas depois de vc.

O luar.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Reflexos

Como um reflexo no espelho.
A olhar o eu que quero esquecer e o eu que jamais poderei voltar a ser.
As mesmas marcas feitas por lâminas diferentes.
Sempre vi o que estava por trás da amalgama de prata, pela primeira vez me deparo com mim mesmo.
Sempre acreditando ser o outro o reflexo, até constatar vergonhosamente que minha imagem é que se encontra nas sombras.
Como a lua que apenas reflete o sol.
Incapaz de acreditar.
Incapaz de ter fé outra vez.
Incapaz de sorrir entre o sangue.
Incapaz de ter esperanças sobre os destroços.
O mundo real que me consome, que ata minhas mãos e pés, mostrando o quão vago é a minha dor e tão tola minha solidão.
Uma criatura que perdeu o sentido de existir ao longo dos anos.
À minha frente novamente a luz que ofusca, tão real que queima.
O reflexo do que é original, a imagem de carne do irreal que perdi.
Em sua dor, sua estrada sinuosa, nos espinhos tropeçados e em toda lágrima derramada, ainda assim, é capaz de sorrir.
Capaz de acreditar.
Capaz de ter fé.
Capaz de ter esperanças que tudo se acertará.
Ao olhar o reflexo á minha frente tão real que posso tocá-lo a ponto de me ferir, eu só posso me perguntar mais e mais uma vez: qual o propósito de uma criatura tão vil como eu existir.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Rosa de Sangue

Espalhados pelo chão os papeis cifrados, as letras tão belas das músicas que havia criado ao observá-la todos os dias no colégio.
O vidro estilhaçado da janela sobre a cama ao lado, os lenços enrolados na cabeceira.
Pelo corredor o rastejo vermelho da fuga, sobre a cômoda a faca e o revólver.
Os sonhos perdidos pelos degraus ensangüentados, enquanto na sala tocava "Nothing Else Matters".
E de fato, agora, nada mais importava, nem as aulas da faculdade, nem as provas nem as notas.
Os acordes mal feitos, as letras rabiscadas, mas nada importava.
Morava sozinho, em uma casa dúplex, 2 quartos, 1 suíte, área de serviço, copa e cozinha separados, sala de estar e visita distintas, escritório e biblioteca.
Era uma boa casa, um antigo casarão reformado por dentro, mas mantendo boa parte do seu estilo colonial europeu.
Pela casa fotos de quando criança no parque, adolescente no futebol, e agora jovem com os amigos da sinuca.
Mas algo era especial ali. Se destacava do visual comum de casa de jovens, ele era maduro, aquela era uma casa de um adulto.
Por cima da lareira da sala de estar, um quadro pintado por ele, do anjo que ele considerava sê-la.
A bela menina de cabelos cacheados, tão pretos quando a escuridão e tão suaves quanto a noite, de pele rosada pelo frio das montanhas, de olhos castanhos misteriosos.
No quadro ela parecia flutuar com seu sorriso inocente e seu olhar sedutor, com seus cabelos ao vento e seu vestido a balançar.
Ele contemplava o quadro deitado em seu leito vermelho, parecia Ter uma visão, talvez o considerasse assim.
Ele via-a dançar diante de si, a balançar um xale branco, com seu vestido de alcinha branco rendado, manchado de vermelho.
Um vermelho forte, fresco, que parecia fazer um desenho sobre o tecido de algodão tão bem trabalhado.
Ela rodava e ria, sorria como um anjo satisfeito, balançava o xale como asas e parecia voar, ele de fato imaginou que fosse um anjo.
A música parou de tocar, ela foi até o aparelho e trocou o Cd, agora ela ouvia "Iris" de Goo Goo Dolls.
Se aproximou dele, segurando em seu rosto com as duas mãos o levando tão próximo a sua boca.
- Você seria capaz de desistir da eternidade pra me tocar somente uma vez?!
Ele tentou balbuciar algumas palavras, engasgando em seu próprio sangue em sua garganta.
Seu olhar parecia inerte na presença fantasmagórica de sua musa.
- Você desistiria da eternidade pra me tocar somente uma vez?
Ela repetiu a pergunta, ele engoliu e respondeu.
- Desistiria de tudo...
Ela sorriu, soltou-o e voltou a dançar ao embalo da música.
Ele perdia os sentidos aos poucos, pensava lerdo, já estava desfalecendo, ela se aproximou outra vez.
- Você está morrendo. Tsctsctsc tadinho.... Está sangrando desde do seu quarto quando disse que morreria por um beijo meu... - ela então o beijou, com seus lábios frios e se alimentou de seu sangue ainda quente, em um beijo profundo e extasiante.
- E então?! Ainda morreria por um beijo meu?! Lhe dei o beijo...
Ele olhou-a com ternura, já não sentia mas seu corpo, mas pode sentir o beijo dela.
Ele sorriu e balançou a cabeça positivamente.
Ela parou por alguns instantes, ouvindo a música de fundo.
- Me deu a tua vida por um simples beijo mortal, por teu amor e tua fidelidade á mim, lhe darei um beijo que carregará por toda tua eternidade.
Ele já não podia mais ouvi-la.
Ela cortou o pulso com os dentes, e deu de beber ao seu admirador, que o sugou com ânsia e paixão.
Quando tudo estava terminado, ela o observava morrer mas uma vez diante dela.
Aos poucos ele recobra a consciência e as forças.
Seus pulsos cortados não deixaram marcas.
Ele olha ao redor, sangue e destruição em todos os lugares.
Discos e CDs quebrados e espelhados, uma trilha vermelha pelo carpete bege da escada, cortinas rasgadas, marcas por todos os lados.
- Deus, o que houve aqui?!
Ele sobe as escadas, vê a destruição em seu quarto, suas cifras, suas músicas, seu sangue, vidros, marcas de luta.
Seu violão sobre a cama desfeita, sobre ele uma carta:

"Sei que escreverá de mim, e sei que tudo não passa de ilusão. Aprenda hoje, meu caro, nada é real. Em meus braços repousaste esta noite, e nos braços da noite caçarás daqui pra frente. Não há luz, não há sol, não há salvação. Você desistiria da eternidade para me tocar, mas ao tocá-lo dei-te a minha"

Seus olhos encheram de lágrimas, era lúgubre mais magnífico.
Coçou a cabeça, tentou entender sua fome e nada pra comer, tentou entender seus delírios dessa noite, imaginou como arrumaria aquela bagunça, mas nada fez a respeito, somente desceu as escadas e sentou no sofá segurando seu violão ao lado e a carta junto dele.
- Acho que preciso voltar a fumar ou beber, acho que a sóbrio vejo mais ilusões do que dopado.
Desviou o olhar para o quadro de sua musa, seu anjo sombrio.
Ela parecia sorrir maliciosamente agora, e ele podia notar presas no lugar dos caninos.
Seu olhar não era mais tão misterioso, era sinistro, macabro.
Era engraçado como ele via as coisas diferentes agora, como se seu delírio houvesse retirado todas as máscaras do mundo.
Sobre a lareira embaixo do quadro uma rosa que brilhava estranhamente.
Ele se levantou calmamente, foi até ela e reparou que a flor feita de vidro era vermelha por sangue, um cheiro forte e adocicado, de gosto agridoce.
Escrito com sangue no cantinho do quadro, sobre o vestido branco :

"Beijei-te com o beijo de minha alma, e através dela fiz de ti parte de minha imortalidade"

Ele lambeu a rosa, sentiu o gosto do sangue dela e sorriu, sentou no sofá, ligou o gravador do rádio e começou a tocar sua nova canção......

"... E como anjo dançou sobre pétalas de sangue. No teu beijo imortal, na ilusão eufórica do transe. Nos teus braços repousando, sobre a noite amargurando, fazer parte de sua imortalidade. Minha tão doce e suave Rosa de Sangue..."
2002

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Caminho

Minhas palavras passam despercebidas como se eu não existisse.
As pessoas vivem suas vidas sem a necessidade de minha presença.
Meus sorrisos já não encantam nem iludem ninguém.
Tão despercebida que minhas máscaras não são mais necessárias.
Às vezes desejo morrer.
Perder esse dom que assemelha a uma maldição.
Às vezes desejo desesperadamente viver para provar o contrário.
Mas no final, apenas observo os outros viverem.
Não existe mais nada que seja forte e verdadeiro o suficiente.
Os olhares, os desejos, as vontades, os sentimentos.
Tudo é tão efêmero em minhas mãos que me dá medo.
Como as areias que escorrem quando se tenta pegá-las.
Não sei o que desejar.
Não sei se devo lutar por algo que me cortará novamente.
A lua alta no céu sem estrelas não parece tão solitária quanto me sinto.
O vazio que nunca me abandona.
A esperança que sempre morre cedo demais.
O amor que eu não mais acredito.
Os pés que caminham pelo caminho sem se importar com o final.
O coração que já não tem mais força nem vontade.
Minha alma clama pelo descanso.
A recompensa pelas vidas que já passaram e pude testemunhar.
Talvez seja apenas a solidão.
Talvez sejam as feridas mal cicatrizadas.
Talvez seja a descrença no poder dos que possuem asas.
Talvez seja apenas o fato de que não consigo mais me lembrar quem eu sou.
No caminho que a vida me guiou a trilhar o destino é incerto e escuro.
Não há luz no fim do túnel, apenas as contas para acertar.
Se já fui guerreira de fato algum dia hoje eu peço perdão.
Pois nem a espada eu sou mais capaz de empunhar.
Desejo apenas que tudo o que precisa ser feito termine.
E que de algum modo eu encontre paz.

domingo, 21 de dezembro de 2008

ANJO TEMPESTUOSO

Ele a olhou.
Sabia que seria complicado, mas deixou.
A vida pareceu Ter outro sentido depois que ela apareceu.
Era estranho.
Um lindo anjo tempestuoso.
Carregava a suavidade dos sonhos e ao mesmo tempo, a agressividade de tempestades e relâmpagos.
Era instável e feroz.
Teu olhar sereno e misterioso.
O que se poderia esperar dela se não amor e paz?
Mas suas asas tão manchadas de sangues e batalhas, jamais traria a alguém uma paz tão desejada.
Sua missão sempre fora ensinar através da espada e não saberia fazer diferente.
Com seu sorriso inocente, seu olhar malicioso...
Era complicado entendê-la e tão fácil amá-la.
Mas também, era fácil ferir-se em seus espinhos, esbarrar em seu passado ou mexer em antigas feridas mal cicatrizadas.
Ela sempre será um segredo, um enigma, um desejo.
Algo a ser descoberto, desvendado e domado.
Mas acho que ninguém no mundo conseguiria tal proeza, pois seu espírito é selvagem como os ventos que de brisa se tornam tempestades.
Mesmo assim, ele a olhou mais uma vez.
Sabia que dificilmente conseguiria, mas deixou assim estar e assim acontecer.
Depois de anos a sua volta, percebeu que não adiantaria questionar.
Ela sempre viu além de seus olhos e embora ele pudesse compreender e aceitar, não podia sentir ou acreditar.
Tantas e tantas vezes ela avisou, que aquele que olha muito tempo o abismo, passa a ser olhado por ele.
E ela era o abismo.
Aonde tudo começa e termina, onde a dor se propaga ou cessa.
Era a saída ou a chegada.
O bem ou o mal, dependia sempre de quem e como a olhavam.
Um anjo de roupas pretas, olhos distantes, coração machucado e asas manchadas, mas como negar que ela era ainda um anjo?
Com seu amor, seu afeto.
Sua proteção, suas orações, seus carinhos.
Ela sempre estaria ali, vagando pelas ruas desertas de seu destino.
Em algum lugar da noite perdida em seus devaneios.
Ele a olhou mais uma vez, seu delicioso vestido preto colado ao corpo, seus ondulados cabelos vermelhos, seu olhar perdido no vento.
Sabia que seria complicado, que lhe rasgaria a alma deixá-la partir, beijar outras bocas, provar de outros sangues, alimentar-se de outras almas, proteger outros perdidos, seguir seu destino sem ele.
Muito tempo atrás, na noite em que atendendo á sua súplica, sorveu seu líquido vital e lhe deu em troca uma visão do mundo, ela lhe disse:

- Na noite, onde criaturas como nós vagamos a procura de satisfazer aquilo que almejamos, seja saciar a Besta ou ceder á Fome, nada nos pertence. Nem nós mesmos. Aprenderá um dia que aquilo que mais amamos sempre será aquilo que perderemos primeiro e que depois que se chega onde estamos, não adianta suplicar, pois não haverá morte ou paz somente poeira ao vento quando o sol amanhecer. Embora a dor e o sangue que me delicio a beber, ainda tenho asas e ainda preciso cumprir o que vim fazer. Nunca serei livre, mas você sempre será. Ás vezes o pássaro dentro da gaiola será mais feliz do que aquele que pode voar.

Ele a olhou, uma última vez, viu suas asas rubras e sua luz pálida.
Ela podia ir para onde quisesse, tinha poder para isso, mas entendeu que o pássaro dentro da gaiola era ele.
E aquele que parecia poder voar jamais seria livre.
Sorriu...
Ele a olhou, sabia que seria complicado, mas finalmente, a deixou partir.

2004

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Uma Lenda... Shaynara

O doce paladar do vinho para sempre.
A cor tão inebriante nos lábios..
O vento selvagem nos cabelos.
Na voz, angelitude.
Nos olhos a sutil melancolia.
No livro a história.
Nas páginas, sangue e glórias.
Marcas de batalhas.
Lembranças de caçadas.
Na pele o perfume dos séculos.
Nos gestos a delicadeza de uma guerreira.
Tão doce paladar seria!
Um legado, uma profecia, anjos decaídos.
Batalhas sangrentas, um destino indefinido.
Sedução, malícia, amor.
No coração uma alma.
Nas mãos garras, na boca presas, no rosto lágrimas.
Um véu preto jogado, no chão cristais despedaçados.
No dedo uma aliança, no cordão um pingente prateado.
Nos becos de Londres, sangue e corpos deixados.
Lutas impossíveis, magia, espadas, ciúmes, irrealidade permitida.
Uma história, uma cina, um legado, uma eternidade, uma vida.
Vento frio, calor humano, olhos cinzas.
Espadas, abismos, armadilhas, espelhos, livros, profecias.
Generais, soldados, dois lados e uma vampira.
Séculos em batalhas, guerras, lutas e sangrias.
Perdas, fugas, buscas, encontros e despedidas.
Lutar por tudo, decidir ficar ou fugir, em seu peito a dor sombria.
Arriscar seu amor, sua vida, aqueles tão doces olhos cinzas.
No sangue derramado, no rubro de seus cabelos, no tom doce de seus lábios.
Generais, anjos perdidos, iluminados e decaídos.
No livro a história.
Nas páginas, sangue e glórias.
Nas mãos garras, na boca presas, no rosto lágrimas.
Uma história, uma cina, um legado, uma eternidade, uma vida.
No chão uma espada, uma partida, um castigo, uma despedida.
Para os guerreiros que sobreviveram, alma.
E finalmente.
Anistia.
2004

domingo, 23 de novembro de 2008

Cordeirinhos

O corpo que eu desejo é branco.
Possui a pele tenra da juventude.
Os lábios que almejo estampam um sorriso debochado e irônico.
“Eu posso tudo”, é o que está escrito em suas entrelinhas.
Aquele que aspira as estrelas e que olha somente para frente.
Sem se importar onde pisa.
Sem pedir perdão.
Justifica suas faltas com desculpas esfarrapadas e meios sorrisos falsos.
Ele pode.
Em sua beleza rude, seu olhar determinado e seu espírito voraz.
Tão anjo quanto demônio.
Pobres ovelhinhas que não enxergam sua alma.
Doces sorrisos, olhares perdidos, carinhos, jeito desprotegido.
Como um predador que encurrala a presa sem que ela perceba.
A aranha negra que tece a teia em silêncio e calmamente espera.
Ah! Se pudessem ver o que eu vejo!
O caçador faminto! O desejo por mais! O orgulho! A soberba! A soberania!
Menospreza a presa, humilha-a em segredo, envaide-se com seu sofrimento.
Sim!
É belo, jovem e branco o corpo que desejo.
Os lábios são debochados e ludibriosos.
O ser é mesquinho, cínico e ganancioso.
Mas é esse espírito voraz que deseja devorar o mundo a sua volta que me encanta.
Que não dá valor aos pobres que lhe cultuam.
É esse ser por trás da máscara que eu almejo.
Porque mais delicioso do que a presa encurralada e indefesa, é o carnívoro que a espreita.
Aqueles que desejam o poder como ele, sempre desejarão os mais poderosos.
Sim... porque enquanto despreza os cordeirinhos esquece-se que existem outros lobos maus à sua volta.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A chama que se extingue

Vivendo séculos através das sombras, vendo o tempo passar por meus olhos e nunca me levando consigo.
Se algo mais importa eu desconheço.
No caminho ao qual me entreguei na luxúria de uma noite banhada em sangue, não existe mais nada.
O amor que vivi.
A família que tive.
O palacete onde morava.
As luzes de vela que me encantavam.
O imortal que me abraçou.
De tudo isso somente as cinzas espalhadas ao vento restou.
A fascinação da sedução da caçada, o gosto agridoce carregado de adrenalina, o calor do corpo em meus braços, as batidas do coração, a respiração que falha, nada mais disso me cativa.
Nem a Sede ou a Fome.
A Loucura ou o Devaneio.
Nem a Humanidade que grita em meu peito.
Para esse ser que almeja a lua, não existe mais nada.
Nada mais importa.
Pergunto-me a cada vítima se alguma delas pode me devolver á vida.
Ou entregar-me deliciosamente à morte.

sábado, 25 de outubro de 2008

Saliva, suor e sangue

Sim, aqueles olhos ainda me espreitam da escuridão.
Aquele aroma adocicado que preenchia todo o quarto.
As mãos grandes que prendiam meus braços.
A língua grossa que percorria minha carne.
A batida forte do coração em seu peito.
A ânsia, a angústia, a dor, o desespero, o prazer.
Aquela boca que vasculhava incessante o meu corpo.
O peso do peitoral definido pressionado sobre meus seios.
A força do corpo contra o meu.
O calor, o suor, o gemido, a saliva, a lágrima.
A voz rouca em meu ouvido.
Por fim, o mesmo sempre beijo selvagem e forte.
Os dentes arranhando o queixo e as unhas minhas costas.
A fincada cálida em seu ombro esquerdo.
O líquido vermelho grosso agridoce me invadindo.
O branco derramado.
O êxtase da caçada terminada em meus poros.
O exuberante corpo estendido exausto diante de mim.
Logo depois o sol nasceria e eu estaria longe dali.
Sim, aquele corpo me pertencia até que o tempo o tomou pra si.

L. Angelis